quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Quinto dia (29/12): Purmamarca/ARG X San Pedro de Atacama/CHI (471,7km)

Purmamarca é muito bacana. Saímos tarde para dar tempo de visitar o 'Cerro de Siete Colores', marca registrada da cidade. Na verdade é uma vila turística pequeníssima, de ruas de terra, global e charmosa, a quase 2.200 metros de altitude.

Ficamos no hotel Casa de Piedra, 500 pesos o quarto duplo - R$180,00 - ou 700 se fosse pagar no cartão. Aliás, na Argentina quase tudo tem acréscimo se for pagar no cartão, até na gasolina pediram 0,25 mais se fosse pagar no cartão (isso nos poucos postos que aceitam cartão...). Hotel bom, mas sem frigobar, TV no quarto nem ventilador, e ainda estava calor... Vi a fatídica luta do Anderson Silva no saguão do hotel até as 3 da manhã, os demais foram dormir mais cedo.

Acordamos, tomamos café, subimos uma montanha para ver e fotografar melhor o Cerro de las Siete Colores e saímos de Purmamarca perto das 10h, afinal, até San Pedro eram apenas 420km. No entanto em Purmamarca não tem posto e não tínhamos abastecido as motos em Salta, última cidade grande. Até o primeiro posto, em Susques, 150km. Arriscado. Tivemos que voltar 25km até Tilcara (no caminho oposto) para abastecer, aumentando em cerca de 50km o trajeto do dia.

Logo na estrada de saída da cidade se avista, à esquerda, o Cerro de Las Siete Colores que acabáramos de visitar. Dali em diante é só subida de serra, dos quase 2200m até o ponto culminante (dessa parte da viagem) aos 4.170 de altitude. Estradinha espetacular, com curvas estilo ‘cotovelo’...

Descobrimos que os guanacos habitam as montanhas até os 4000 metros de atitude e as vicunhas acima dos 4000 mil (e que ambos parecem uns camelinhos sem corcovas); que diferente deles, nenhuma lhama é selvagem (todas pertencem ao rebanho de alguém); que além desses bichos só os ‘zorros’ (raposas) e alguns pássaros vivem nessa altitude. Acima dos 3000 metros nem os insetos se espatifavam mais em nossas viseiras. Vimos até um condor planando sobre nós, mas não deu pra tirar foto.

Dos 4170 metros passamos a descer e mais a frente tivemos a primeira visão das ‘Salinas Grandes’, um salar enorme que fica entre Purmamarca e Susques (um mar branco...). Paramos para comer e abastecer as motos no último posto antes do Paso de Jama (aduana Argentina/Chile) e demos sorte de achar gasolina pois já em San Pedro uns motociclistas de SP nos disseram que pouco depois e no mesmo lugar tiveram que esperar chegar ‘la nafta’ por 4h, e acabaram atravessando o Paso de Jama à noite, o que não é nada aconselhável, sofrendo sob ventos fortíssimos e temperaturas próximas de zero. Sem falar que não apreciaram nada do visual.

Abastecidos estômagos e tanques, rumamos para a aduana (no Paso) a fim de fazer os trâmites migratórios.

 No caminho os primeiros picos nevados foram avistados. Lá tem um posto, e Marcinho e Serginho abasteceram de novo por causa da autonomia mais limitada de suas motos. San Pedro ainda estava a quase 200km. Por falar em autonomia, pilotar na altitude é muito doido. A moto gasta menos (a minha chegou a fazer 22 km/l mesmo subindo e acelerando forte) mas ‘no topo do morro’ perdeu potência e não passava de 120km/h. As outras idem. As rajadas de ventos laterais são tão fortes que as vezes te obrigam a pilotar por quilômetros com a moto literalmente ‘deitada de lado’.
  
Por azar, na aduana tinha um ônibus de excursão na nossa frente, assim demoramos quase 1h30min para sermos liberados a entrar no Chile. São 4 filas: 1ª para dar saída da Argentina, 2ª para dar entrada no Chile, 3ª para passar pela fiscalização Argentina e 4ª pela fiscalização Chilena, nesta última com revista das malas na moto.

Parados na aduana percebemos o início dos efeitos da altitude a mais de 4000 metros. Crianças chorosas, muitas dormindo meios que ‘desmaiadas’ (apesar da meninada presente não tinha aquela tradicional zona e corre-corre...rs), alguns adultos sentados pelos cantos, outros passando mal mesmo, vomitando, etc... Tem até uma enfermaria lá, com oxigênio e tudo.

Nesse momento percebemos que nosso amigo Marcinho estava começando a ficar meio calado. Logo ele, o mais falador do grupo...kkk

Feitos os trâmites ingressamos no Chile já no fim da tarde para percorrer os últimos 160km até S. P. de Atacama, preocupados com a hora (quanto mais tarde mais frio) e com uma enorme nuvem negra à nossa frente. Se chove, lascou tudo.

Tiramos a tradicional foto sob a placa que indica a divida territorial Argentina/Chile e, para nossa sorte, da chuva prometida caíram só uns pingos. Dali pra frente era só subida até os 4830 metros e depois um descidão de 45km até San Pedro, que fica a aproximadamente 2400 metros de altitude.

Mesmo tendo lido e ouvido vários relatos de motociclistas que passaram pelo Paso de Jama, só estando lá pra saber como é. Para nós as condições foram muito favoráveis, só ventos laterais e frio de 12 graus. Mas é o tal ‘soroche’ ou ‘puna’ (como chamam aqui o ‘mal da altitude’) que derruba os marmanjos. O ar fica ‘leve’, temos que puxar mais pra respiração ser suficiente, a cabeça pesa e dói, dá sono e um certo mal estar. De nós, o Marcinho foi quem sofreu mais. O antes falador – que sempre desce da moto igual a formiga atômica, saltitando e falando sem parar...rsrsrs – mal conversava.

Simone e meninas, fica a dica: quando Marcinho estiver dando muito trabalho, é só levá-lo para além dos 4000 metros que ele fica quietinho...kkkkkkkk  

Começamos a descer 2500 metros em 45km de estrada e chegamos a San Pedro de Atacama, nosso destino principal, por volta das 18h. Nesse caminho paramos para fotografar ao fundo o vulcão Licancabur, parte da lunar paisagem local. Marcinho nem queria descer da moto.

Tínhamos reservas no Hostel Rincon San Pedrino (albergue simples mas bem localizado, as três noites num quarto quádruplo por 132 mil pesos chilenos – isso mesmo! – cerca de R$660,00), onde fomos bem recepcionados pela filha da dona e por um bando de brasileiros e chilenos.

Já em terras mais baixas, depois de um banho no chuveiro compartilhado do hostel e de um cochilo enquanto nós três saímos para cambiar dinheiro e reconhecer o local, Marcinho melhorou do ‘soroche’ e saímos para jantar no restaurante ‘Las Delicias de Carmen’. Ele e Ilo encararam língua de boi com batata, eu um bife de boi com ovos e fritas e Serginho costelas de porco. Todos pratos gigantescos. Ninguém conseguiu ‘dar cabo’ do seu e quando veio a conta, 56.400 pesos (cerca de R$282,00)! Até acostumar, fica difícil pensar em tanto dinheiro para pagar um simples jantar...

Como na Argentina, no Chile o dinheiro é ‘mais fraco’ que o nosso mas isso não significa nada, pois convertendo em Real, as coisas saem no mesmo preço ou até mais caras que no Brasil. Gasolina? Mais de 4 reais o litro. Inclusive nos foi dito que San Pedro e a cidade mais cara do Chile.

‘Jantados’, restava procurar uma agência de turismo para marcar os passeios dos próximos dois dias. Conseguimos três passeios: Laguna Cejar, Gêiseres de Tatio e Valle de la Luna, todos por 140.000 para os três, fora as entradas dos parques. Depois conto como foi.
  
Detalhe: em San Pedro é proibido bebida alcóolica na rua. Cervejinha na mão só dentro de casa (ou hotel) e dos restaurantes. Perguntei a dona do hostel qual era a pena caso os ‘carabineros’ (policia local) nos pegassem na rua bebericando uma long neck e ela fez aquele universal gesto de algemas nos pulsos...rsrs. 

Portanto bebedores de plantão, cuidado para não estender involuntariamente sua estadia em San Pedro e ver o sol do atacama nascer quadrado...rs 

Los 4 amigos com o Cerro de las Siete Colores ao fundo

Estrada Purmamarca X Paso de Jama. Show de curvas!

As tais vicunhas a mais de 4000m de altitude

Salinas Grandes - Um salar gigante sobre a cordilheira. Prova de que aqui realmente foi mar um dia.

Último posto antes do Paso de Jama. Todo mundo abastece ali (quando tem gasolina).

Rebanho de lhamas fechando a estrada

Vicunhas. Cuidado que elas atravessam na frente das motos!

Salinas Grandes

Perto do Paso, as primeiras montanhas com picos nevados

O danado!

Se essa chuva nos pega, lascou.

Divisa Argentina/Chile depois da aduana

Ponto mais alto do Paso de Jama: 4.830 metros

Já na descida para San Pedro, com o vulcão Lincancabur ao fundo (reparem que Marcinho nem animava tirar o capacete...rs)

Chegamos!

Olha os efeitos da altitude em nosso amigo. Na recepção do hostel ele nem conversava.

Ilo 'metendo a língua' num pratão de língua de boi com batata...rs

56 mil? Essa conta tá certa?

Marcinho ainda sob o efeitos do 'soroche'...rsrs

8 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Estão com o blog desatualizado... terão que reservar um tempo maior para colocá-lo em dia. Mas os relatos estão muito bons (por isso a reclamação) e com certeza, a viagem, magnífica.

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    1. Internet aqui ta dificil... Mas em breve posto mais fotos e relatos dos outros dias. Abraco!

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    2. Internet aqui ta dificil... Mas em breve posto mais fotos e relatos dos outros dias. Abraco!

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  3. Marcinho quieto e calado?! Rodrigo, máximo 120km, aposto que minha Uly passava disso fácil kkkkkkkk. Abrs e boa viagem.

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    1. Hahaha... Nao vi buell por aqui ainda nao... E olha q ate kasinski tinha na estrada. kkk..

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  4. Estava tão curiosa que vim numa lan house aqui na praia pra ler o blog. Cadê as fotos? Continuem mandando noticias e continuem sob a proteção divina no restante da viagem.

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