A primeira garfada a gente nunca esquece.
Saímos do hotel em Corrientes (Hotel del Parque, 280 pesos o quarto duplo sem café), capital da província de mesmo nome, perto das 9h. Calor. Por uma avenida com marginais ao lado ('coletoras' como aqui as chamam) seguimos para Resistência, cidade vizinha já na província do Chaco (só cruzar a ponte sobre o Rio Paraná).
Tranquilos pela pista central da tal avenida, ao chegar na cabeça da ponte fomos parados pelos 'buenos hermanos' de la Policia Caminera, que nos informaram que motos não podiam circular por aquela via, mas só pela marginal. Bom, nenhum de nós viu placa indicando isso... O PM argentino chamou (só um de nós, impôs) para dentro da guarita e disse que tinha que fazer uma multa para cada, no valor de 701 pesos (algo perto de R$250,00) ou 1402 pesos caso fossemos reincidentes. Pior que para pagar teríamos que voltar ao centro da cidade e ir a uma espécie de juizado especial para nos explicar.
Refuguei. Mais de R$1.000,00 para nós 4 e ainda perder meio dia de viagem? Perguntei se não dava para dar só uma advertência, ou coisa parecida, já que éramos estrangeiros e não tínhamos visto a placa (se é que ela existe)... Nessa hora passou uma motoca - tipo uma CG velha e sem placa - pelo mesmo lugar que estávamos!
"Mas por que ele pode?", indaguei.
"Ah, é que ele veio por outro caminho...", respondeu meio sem jeito o caminero...
Que dureza. Nunca havia pagado propina pra ninguém, mas quando ele falou isso vi que ali era inevitável. Veladamente inquiri: "Como fazemos para resolver isso aqui?" Ai ele perguntou minha profissão, etc., e disse que por ter ido com nossa cara receberia ali mesmo uma multa só, para todos os 4. Refuguei de novo. Falei que tinha apenas 400 pesos (e de fato na carteira só tinha isso) e o 'seu guarda', sem estresse, disse que tudo bem.
"Mas por que ele pode?", indaguei.
"Ah, é que ele veio por outro caminho...", respondeu meio sem jeito o caminero...
Que dureza. Nunca havia pagado propina pra ninguém, mas quando ele falou isso vi que ali era inevitável. Veladamente inquiri: "Como fazemos para resolver isso aqui?" Ai ele perguntou minha profissão, etc., e disse que por ter ido com nossa cara receberia ali mesmo uma multa só, para todos os 4. Refuguei de novo. Falei que tinha apenas 400 pesos (e de fato na carteira só tinha isso) e o 'seu guarda', sem estresse, disse que tudo bem.
Saímos da 'blitz' amigões do guarda, que deu tchau, desejou boa viagem, e até parou o trânsito da via para podermos arrancar.
Mas, explicada nossa contribuição (in)voluntária para a Policia Caminera, voltemos à viagem: imagine o dia mais quente do ano. Meio dia. Você no asfalto durante 8 horas sentado numa cadeira (daquelas pretas, cobertas de plástico ou napa) com ambos os braços esticados para frente e 12 secadores de cabelo ligados no máximo apontando para seu corpo. Não se esqueça de estar usando todas suas roupas de frio: jaquetas de couro, botas, luvas e até uma 'touca ninja'. Também uma máscara de mergulho. Assim você vai ter uma pequena ideia do que é atravessar os mais de 700km a Ruta 16 pelo Chaco argentino de moto em pleno verão.
Digo pequena pois nessa simulação não estão inclusos os milhares de insetos e dezenas de pássaros atropelados, além dos burros (inclusive de 4 patas), cachorros, leitões, cabras e etc. que cruzam a estrada toda hora.
Sério: sair de Corrientes sob um calor úmido escaldante e chegar a Ruta 09 (antes de Salta) não é moleza. 43 graus marcados na moto era normal, e abrir a viseira nem pensar: o ar queimava. Foi assim quase o dia todo. Parávamos no máximo a cada 150km para hidratar, as vezes menos de 100km. Pelo nome das cidades dá pra sentir o drama: Pampa del Infierno, Monte Quemado, Rio Muerto...rs. Até um certo ponto só o que se via por lá eram milhares de borboletas (andamos mais de 100km atropelando-as...hehehe), mas quando o calor apertou mesmo, nem as borboletas suicidas aguentaram o rojão.
No mais o dia foi bom, cumprimos o roteiro e chegamos em Purmamarca, na província de Jujuy, norte da Argentina; uma charmosa cidadezinha do Tipo São Thomé das Letras/MG. As casas são de pedra ou de adobe (tipo um tijolo coberto de barro), as ruas de terra... Nos restaurantes música e comida típica, além de gente do mundo todo. Jantamos com franceses, noruegueses, dinamarqueses, argentinos de todo canto e, é claro, outros brasileiros. Carne de lhama e de coelho foram nossos pratos. Bão...
43 graus no chaco argentino
43 graus no chaco argentino
Ilo no fim da Ruta 16, com a cordilheira ao fundo
Ruta 16
'Pampa de las borboletas suicidas' rsrs
Ilo marcando terreno com o adesivo dos Navegantes
Frescuragem no deserto...kkkkk
Dizimando a fauna argentina
Parada estratégica para esfriar a cabeça
Isso atrás de mim é um rio...
Música jujeña em Purmamarca
Bife de lhama com batata e um milho branco...
Restaurante Tierra de Colores em Purmamarca
Perna de coelho com um viradão de miúdos do mesmo bicho
4 pratos, cerveja, água... 425 pesos. Tipo 150 reais
Permitidos dentro do restaurante. Tinha uns 3 ou 4