segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

'Causos' de motocicleta

AS MOTOS

Nossa viagem foi programada para ser feita (pelo menos até Foz do Iguaçu) em 05 motos: duas BMW R1200GS e três V-Strom (duas 1000cc e uma 650cc). Miltão e sua DL1000 infelizmente ficaram pelo caminho devido a queda perto de Tiradentes/MG, relatada no 1º dia de viagem.

Todas as motos comportaram-se extremamente bem, sendo a DL650 a única que careceu de uma breve 'internação' para ter a relação substituída depois de mais de 8 mil km rodados na viagem e cerca de 25 mil total da moto. Mas o próprio Marcinho assumiu que no dia a dia (ou seja, à exceção de viagens maiores) jamais preocupava-se com a lubrificação da corrente, o que certamente contribuiu para o desgaste prematuro do conjunto.

No entanto, em que pese a bravura da japonesas e sem puxar a brasa pra salsicha alemã, sobressaem-se as BMW.

Corroborando meu destaque, de cada 10 motociclistas brasileiros que encontramos pelo caminho fazendo trajeto parecido com o nosso, sem medo de errar, mais da metade pilotavam alguma GS (principalmente as 1200). No mais, basicamente V-Strom, XT, Tenere, KTM, Transalp e Triumph. Surpreendentemente, poucos modelos custom: quanto mais longe estávamos menos 'harleyros' víamos. Esportivas? Vi nenhuma (por motivos 'ergonomicamente' óbvios). O mais perto dessas foi um brasileiro, muito animado e com uma sacolona de plástico amarrada na 'garupa', chegando a San Pedro numa naked (yamaha XJ6).

Não nego ser um entusiasta da marca bávara - que infelizmente no Brasil ainda é vendida com status de 'grife', o que acredito reforçar a enorme disparidade de preço em relação as concorrentes (que não é tão acentuada na Europa ou EUA) - porém a confiabilidade, segurança e conforto das GS, principalmente se o modelo dispuser de eixo cardã, são indiscutíveis.

Até o consumo foi surpreendente: rodando distâncias iguais em velocidades e condições idênticas, as BMW chegaram a consumir de 30 a 40% menos combustível que as V-Strom, mesmo a 650 do Marcinho. Se o meu tanque ou do Ilo enchíamos com 100 pesos (cerca de 10 litros) o do Serginho ou Marcinho 'gastava' até 140 pesos/14 litros... E isso justificava a consideravelmente menor autonomia das Suzuki.            

ESTRADAS ARGENTINAS E CHILENAS

Outra curiosidade são as estradas chilenas e argentinas. À exceção de um carro alugado na Terra do Fogo (patagônia Argentina e Chilena), eu nunca havia dirigido ou pilotado na América do Sul. No entanto sempre ouvi falar que as estradas vizinhas são muito melhores que as nossas, e que o Chile, nesse aspecto, é o 1º mundo da América do Sul, etc. Não vi nada disso...

Nossa viagem só reforçou imagem que eu já tinha: ambos os países somente se destacam em termos estruturais no entorno de suas capitais. O resto é meio 'esquecido': quase nenhuma estrada de acesso as cidades menores é asfaltada. De fato as rutas principais realmente tem um piso - via de regra - mais bem conservado que o das nossas estradas (onde também cobram pedágio), mas vá lá, as pistas de nossos vizinhos também não são nenhuma brastemp... Principalmente longe das capitais são estreitas, sem acostamento e praticamente sem infra estrutura de socorro e serviços. Convenhamos também que conservar estradas onde chove muito menos que no Brasil (caso do norte do Chile) e transitam muito menos caminhões e outros veículos, é bem mais fácil né?    

CARTÕES DE CRÉDITO

Curioso que fora das maiores zonas urbanas os cartões de crédito, principalmente os com chip, não são bem quistos. Muitas vezes hotéis e postos tem uma tabela com dois preços: en efectivo sai mais barato que no cartão. As vezes muito mais barato... Num posto acrescentaram 0,25 por litro de nafta no cartão, e em Purmamarca o hotel que en la plata era 500 pesos passava para 700 no cartão: 40% de acréscimo!

DESERTO DO ATACAMA

Essa história de que lá é o local mais árido do mundo é mentira; e que não chove a 400 anos, idem. Tanto que, salvo engano em 2012, houve uma monumental enchente em San Pedro, documentada no excelente livro A caminho do céu, do motociclista Rômulo Provetti. Um de nossos guias em SPA disse que lá chove comumente entre o final de janeiro e o início e fevereiro e que essa é praticamente a única chuva do ano, porém dura vários dias, inclusive inviabilizando muitas atrações turísticas da região.

Outra coisa, evidentemente de critério subjetivo: dizer que o Atacama (como um todo) é bonito é sacanagem...rs. Lá pode ser diferente, lunar, até meio surreal. Mas bonito mesmo é o Brasil. Ninguém merece rodar milhares de km mirando a mesma paisagem: basicamente areia e pedra. No começo é ótimo, tudo diferente, etc., mas depois de várias horas (ou dias) com o mesmo visual na frente da viseira - pelo menos eu - comecei a achar monótono.

'CAUSOS' DE MOTOCICLETA

Por fim registro outros casos engraçados que voltaram a mente depois de fechado no blog o respectivo dia em que eles ocorreram.

1) TRILHA DE GS

Creio que há efêmeros 'momentos motociclísticos' em que a prudência e o bom senso parecem ter caído da nossa bagagem naquela curva que passou. Ainda bem que na maioria das vezes tais predicados 'nos alcançam' na reta seguinte para, novamente, nos impedir de fazer alguma besteira. O problema é esse meio tempo entre a curva e a reta...rs.

Aconteceu comigo em Foz do Iguaçu, no final da manhã do terceiro dia de viagem. O GPS insistia em nos mandar pra Argentina via Paraguai e acabamos engarrafados naquela enorme fila da ponte da amizade onde constatamos estar no caminho errado sem ter como voltar. Depois de alguns minutos, frustrado sob aquele calor escaldante, decidi imprudentemente fazer da GS uma CRF230 e subi no paralelepípedo visando descer um barranquinho na lateral da avenida, a fim de fazer o retorno pela marginal. Gritei pros companheiros que se desse certo eles poderiam vir atrás. Ledo engano...  

Cruzar o meio fio (sem calçada do outro lado) com aquela 'bigorna' e suas malas já não foi tarefa fácil. Pior foi quando desci o tal barranco de grama, pois na parte mais baixa tinha uma valeta de chuva ocultada pelo mato alto. Por sorte a roda dianteira com suas 19 polegadas passou pelo buraco, já a traseira, menor e com maior peso concentrado, bateu lá no fundo como uma pedra.

Eu, que não esperava o baque, sofri o impacto nas costas e de tanta dor não conseguia nem respirar direito. Com o 'sangue quente' acelerei fundo e com os pés no chão e fiz a moto subir o que restava do barranco até a rua, onde imediatamente parei, desci e tive que me sentar por vários minutos até recobrar o fôlego.

Pior foi que Ilo e Marcinho seguiram em frente e, há poucos metros dali, encontraram um retorno que os deixou ao meu lado em questão de minutos. rsrs

A dor lombar me acompanhou por dois dias e só melhorou depois de muito gelol spray... rs. Nas primeiras horas depois da 'burrada' eu só conseguia caminhar com as costas levemente arqueadas e em alguns momentos daquele dia achei que se não melhorasse teria que abortar a viagem.

Daí a conclusão que uma simples atitude impensada poderia ter culminado com o fim do passeio, pelo menos para mim.

2) O MÁRCIO DE BOTAS

Na foto seguinte Marcinho - tranquilo como de costume - e suas botas não impermeáveis, ambos que deram sorte de rodar 10 mil km sem pegar 5 km de chuva. A imagem é do 1º dia de viagem durante a única e rápida chuva que (quase) pegamos. Na ocasião ele, solene, sacou do baú duas sacolas de supermercado e uma fita larga pra ajustar as botas à situação... Figuraça mesmo...rsrs

Reparem na bota 'preparada' com duas sacolas de supermercado e fita larga já toda solta pela ação do vento: "Agora pode até nevar no Paso de Jama que tô preparado!" rsrsrs

3) MOVIDO A DIESEL

Ao chegar em San Luis/ARG, como de costume paramos num posto antes de procurar hotel. Assim nos informávamos (segundo Sapavini, amigo cachoeirense e motociclista 'véio de guerra', "O melhor GPS que existe é o frentista") e na manhã seguinte as motos já estariam abastecidas.

Cidade grande, posto bacana, cada moto numa bomba.

Reparamos que Marcinho, porém, discutia freneticamente com o frentista dizendo que queria gasoil na sua moto e não nafta, enquanto apontava pra bomba do tal gasoil... O frentista, paciente (característica pouco frequente nos hermanos), explicava: 

- Señor, no se puede poner gasoil en su motocicleta!
- Por que não? No Brasil só uso gasoil!!!
- No señor, gasoil no es para motocicleta...
- Que não é o quê! Eu quero gasoil! Você não quer colocar por que é mais barato né?

O frentista deu de ombros...

Marcinho, indignado, veio até nós contar sobre a petulância do argentino que não respeitava o cliente, ao que respondemos que a tal gasoil lá era óleo diesel...

- Ah é?
E gritou pro frentista:
- Então bota nafta mesmo!...