terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Décimo primeiro dia (04/01): San Luis/ARG X Paraná/ARG (817 km)

Dizem que a melhor parte da viagem é voltar pra casa. Depois de 11 dias pelo menos eu já estava nesse ritmo. Saudade da família, dos cachorros, da minha cama. Minha esposa não ajudava muito ao mandar fotos dos filhos dizendo que o mais novinho, de um ano, não parava de me chamar...

Não que a viagem estivesse ruim, pelo contrário, mas já rumo ao Brasil a vontade era chegar logo.

Prevíamos assistir a largada do Dakar em Rosario, no domingo 05/01, mas ainda era sábado e teríamos que ficar praticamente dois dias lá para seguir o planejado. A viagem estava um pouco adiantada. Então, abortamos a ideia de dormir em Rosario e combinamos de tentar chegar o mais cedo possível só para rapidamente ver o movimento e apresentação dos carros, motos e caminhões do maior rally do mundo, e depois seguir viagem.   

Porém, imprevistos acontecem. Entre San Luis e Rosario optamos passar pela Rota 8, menos movimentada. Ao passar no 'trevão' de um lugar chamado Venado Tuerto, que parece ser a conexão entre o nada e o lugar nenhum, paramos para abastecer. Ali o Serginho sorrateiramente disse: "Rapaz, o pneu traseiro da minha moto tá no arame!". Vale lembrar que ele tinha saído do Rio Grande do Sul, portanto, andara consideráveis 2 mil km a menos que os demais e, no entanto, os pneus das outras motos estavam ainda em perfeito estado. Perguntei a ele quantos km o pneu havia rodado antes da viagem e ele, com a cara mais tranquila do mundo: "Ah... Uns 8 mil..." kkkkkkk. Soltei um sonoro 'puta merda' e envelheci uns 5 anos naquele instante...rsrs. 

O maluco e doravante denominado 'Lobo Solitário' ou 'Ratón del Desierto' rsrsrs (que pilota o tempo todo 'viajando' nos rocks que ouve através de seu scala rider) saiu de casa para ir 'ali' no Atacama com um pneu que já tinha 8 mil rodados... Sem falar que também não trocou o óleo da moto e desde o segundo dia de viagem estava a procura do 'aceite' com a especificação correta para o motor da DL 1000, sem sucesso.

O que não tem remédio remediado está; mas num lugar chamado Veado Torto - ou 'Veado de um olho só' segundo o google...rs - não adiantava nem procurar pneu de big trail. Aliás, na Argentina estão as motos mais lenhadas que já vi na vida, um enxame de ciclomotores caindo aos pedaços e motos argentinas/chinesas como a famosa (por lá) marca 'motomel', cópia descarada dos modelos Honda.

Me parece que o máximo que uma loja de moto ou oficina de Venado Tuerto poderia oferecer era arame e durepox. Capacete? Artigo raríssimo, tanto que eu nem me preocupava se o meu poderia ser roubado quando o esquecia no guidom da moto, afinal, eles não usam mesmo...    

Detalhe: era sábado a tarde e mesmo se por ali existissem 30 lojas especializadas em pneus de big trail teríamos que aguardar até segunda feira no caliente trevão do Veado Caolho. Novo 'puta merda'....rsrs.

Arriscando um estouro do pneu no asfalto escaldante da província de Santa Fé (se a temperatura do ar era de 35 graus imagina da pista...), seguimos quase 180 km até Rosario, cidade com maior chance de achar o neumático traseiro da VStrom.  

Rodamos bem mais devagar que o normal mas chegamos em Rosario ainda com sol. Em todas paradas várias foram as recomendações de não dar bobeira naquela cidade, uma das mais complicadas da Argentina em termos de roubos e furtos. Por sorte achamos uma loja de motopeças aberta, mas como era de se esperar, só pneu pra motomel...rsrs. O vendedor, muito prestativo e usando havaianas com bandeirinha do Brasil, perguntou se estávamos ali para participar do Dakar (rsrs) e indicou outra loja que teria o pneu na medida certa. Fechada. Rodamos um tempão na esperança de achar alguma loja aberta e nada. No caminho as pessoas - inebriadas pelo Dakar que punha Rosario no mapa - tiravam fotos nossas e também perguntavam se estávamos participando do rally.      

Chegamos no centro da cidade, à beira do Rio Paraná, em tempo de ver alguns carros e caminhões se apresentando para uma multidão que se aglomerava em torno das grades de proteção. Descemos das motos para decidir o que fazer (não dava pra seguir com o pneu naquele estado) e então os rumores sobre a cidade ser violenta se confirmaram: com os equipamentos sobre as motos e mesmo estando nós a poucos metros delas, o morador de um prédio em frente que assistia ao Dakar pela janela se deu ao trabalho de descer para nos alertar pessoalmente que nós seríamos roubados caso ficássemos ali. 

Vamos embora desse lugar! Para o Serginho - Lobo Solitário - a viagem já estava no final e de toda forma em menos de 100km ele se separaria do grupo tomando o rumo da fronteira Argentina/Brasil em Uruguaiana, caminho diverso do nosso. 

Decidimos então que depois dele e da VStrom estarem devidamente instalados num hotel/estacionamento nós seguiríamos viagem e ele ficaria em Rosário até segunda feira para trocar o pneu. O primeiro hotel que achamos vaga (tudo cheio, o mundo estava lá para acompanhar o Dakar...) custava 1200 pesos (R$350,00) a diária do quarto single... Golpe! Por sorte o GPS indicou a poucos quarteirões um Hostel de 80 pesos a diária, no qual o Serginho ficou num quarto compartilhado com mais 8 pessoas...kkkkkkkk... Mas daí em diante ele mesmo vai contar aqui no blog mais pra frente.

Detalhe 2: O Lobo Solitário esqueceu o cartão de crédito dele no hotel em San Luis (o que também quase aconteceu comigo num posto) e só lhe restava o de débito. Todos já estávamos com a grana curta (fim da parte internacional da viagem...) e como não sabíamos se aceitariam débito ou quanto custaria o pneu mais a troca, alinhamento, balanceamento, etc., deixamos nossos dólares com ele, que certamente serão cobrados com módicos juros e atualização monetária...rsrsrs 

Despedimo-nos do Serginho e cruzamos a ponte do Rio Paraná sob um por do sol espetacular. A travessia é longa e o Rio enorme, formando várias lagoas nas margens. Barcos, jets, veleiros, caiaques, pescadores, banhistas... Do outro lado fica a província de Entre Rios e decidimos tocar quase 200km até sua capital, Paraná. Chegamos lá a noite e meio desnorteados pelos acontecimentos do dia (foi a primeira vez na viagem que pilotamos a noite, mais de 100km e com trânsito pesado). 

Paraná é uma cidade bonita, balneário disputado, com praias de Rio, vida noturna agitada, etc. O primeiro hotel que tentamos só aceitava efectivo e precisávamos pagar no cartão. Perto dali outro hotel, com um restaurante bem clean e bacana, aceitava dinheiro de plástico. Exaustos e famintos, só queríamos comer, tomar banho e dormir. Como todo castigo pra motoqueiro é pouco, depois de instalados descobrimos que o hotel era vegan, ou seja, todo 'natureba': carne só de soja...kkkkkkkk. Marcinho queria comer arroz com ovo de todo jeito, só pra não ter que sair do hotel... rsrs

Já perto das 23h andamos uns 8 quarteirões até o centro da cidade e comemos uma pizza no Hard Rock Café, bem em frente ao Mac Donald's... Heresia para os padrões do Hotel Bio Citi (onde nada que possua olhos é servido, segundo o atendente), que nos cobrou 400 pesos (R$110,00) por um quarto triplo bem simples mas com um ar condicionado que naquele calor valia o dobro disso.
   
Dia seguinte o café da manhã seria sem presunto...kkkk


Campanha nas províncias argentinas para forçar o uso de capacete: sem 'casco', proibido abastecer. Mas ninguém respeita, nem os motoqueiros nem os postos...

Pneu traseiro da VStrom (isso antes de rodar mais 180 km) 

Apresentação dos carros do Rally Dakar

Na Argentina, de capacete só nós mesmo...




                

Nenhum comentário:

Postar um comentário