segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Décimo sexto dia (09/01): Varginha/MG X Cachoeiro de Itapemirim/ES (669,2 km)

Última 'perna' da viagem. Eu - confesso - estava mais ansioso e apreensivo do que qualquer outro dia. Afinal, sem pelo menos a companhia da esposa, nunca tinha ficado tanto tempo fora de casa.

Serginho já estava tranquilão em Santo Ângelo/RS, com o pneu e o óleo da DL1000 trocados... rs. Hoje, para o Ilo seriam cerca de 260km até Itaúna, mas para eu e Marcinho o dia era mais puxado: quase 700km até Cachoeiro. 

Arrumamos as tralhas nas motos pela última vez (ufa!) e saímos de Varginha depois das 8h. 

De Varginha ao trevo de Lavras é um pulo, menos de 80km; e de lá a Itaúna outro: 170km. Paramos para fotos e nos despedimos do Ilo por volta de 9h. Ele seguiria pela BR 381 até o trevo de Itatiaiuçu/MG onde seu filho Alan e outros amigos do Navegantes Motoclube o aguardavam, todos também de moto. Nós entramos na BR 265 sentido Lavras, São João Del Rei, BR 040, BR 116...

Viagem tranquila, 'cercando a chuva'. A propósito, o que mais fizemos a viagem toda foi cercar chuva. Nos mais de 10 mil km rodados não pegamos praticamente um pingo. À exceção do primeiro dia (que o Miltão caiu perto de Tiradentes, quando na verdade nem estava mais chovendo) as capas de chuva voltaram como foram: intactas. E olha que choveu muitas vezes ao nosso redor. Pegamos muito asfalto molhado na Argentina, no Paraná e agora em em Minas e no Espírito Santo. Até no Paso de Jama - onde uma chuvarada pode complicar a situação do mais preparado motociclista - as nuvens negras foram companhia.

Minhas suspeitas lá do começo do blog se confirmaram: São Pedro é motociclista e as trovoadas são, quem sabe, o ronco do escape aberto de sua tetracilíndrica celestial...rs.

A viagem seguiu tranquila, abastecemos e almoçamos na BR 040 em Barbacena/MG, onde pelo WhatsApp do Alan tivemos notícia que o Ilo chegara bem em casa. No fim da tarde entramos na BR 101 no sul do Espírito Santo e chegamos ao trevo de Cachoeiro perto das 16h30min. 

Marcinho estava na dúvida se ia pra casa pegar umas roupas 'frescas' e o carro (naquela altura a boa e velha companheira de duas rodas já era preterida...rs) para se encontrar com a família que passava a semana na praia em Marataízes, a 40km de Cachoeiro, ou se ia direto de moto mesmo. A saudade falou mais alto e ele foi direto, cheio de roupas sujas: "Lá eu compro uma cueca e tá bão!" rsrs

Nos despedimos no 'Trevo da Safra', na BR 101. Dali até minha casa não mais que 15km.

Todo mundo já ouviu falar naquela estatística que a maioria dos acidentes ocorrem próximos de casa, seja na ida ou na volta, certo? Eu também a conheço e a engrossara em 2011 quando, depois de 5.400km na volta de viagem entre BH e Bonito/MS, caí (sem maiores danos senão feridas no orgulho) dentro da concessionária BMW na capital mineira... Tudo bem que os pisos 'de azulejo' da maioria das concessionárias BMW são um acinte aos motociclistas, muito mais em um dia de chuva como aquele e principalmente se você entrou lá exatamente para trocar seu pneu traseiro liso. Mas isso é outra história, e minhas ruidosas reclamações ficaram devidamente registradas tanto na Euroville quanto naquele feedback à marca.             

Pois é. Estatística é fogo e tem que ser respeitada. Já dentro de Cachoeiro tinha uma obra numa avenida com um 'siga e pare' manejado pelos trabalhadores. Claro que fiquei parado... Tirei as luvas, abri a jaqueta, respirei o familiar (quente e abafado...rs) ar do verão da terra de Rubem Braga. Cheguei em casa! Beleza!

Na pole position da fila, arranquei - junto com uns 3 ou 4 motoboys - assim que o funcionário de laranja virou a placa verde pro meu lado: 1ª, 2ª, 3ª, 4ª - quebra molas - 3ª de novo, 4ª marcha. A meros 5km de casa, num trevo de preferência obviamente minha - porém com visão coberta por um caminhão parado na fila do 'siga e pare' na pista contrária - uma Camionete Ford Ranger surge cruzando a pista na minha frente. Só deu tempo de contar com o eficiente ABS da GS, sem o qual creio estaria escrevendo o blog de um leito na unimed.

A pancada foi inevitável, exatamente no pneu dianteiro da Ranger. Evidente que no momento do impacto minha velocidade já estava bem reduzida pela frenagem, mas mesmo assim um segundo antes pulei da moto que bateu forte e tombou pro lado direito. Eu caí em pé, a moto, segundo um motoqueiro que vinha atrás, chegou a levantar a traseira apesar do peso ali concentrado pelas malas e 'artefatos paraguaios'. 

Só deu tempo de pensar, revoltado: "Não creio... 10.200km de estrada sem um incidente e vou bater logo no quintal de casa?" Depois de uns impropérios lançados ao incauto motorista - que se desculpava e perguntava se eu realmente estava bem - trocamos telefones, documentei tudo através de fotos e vídeos e coletei dados de testemunhas. 

Fui para casa pensando tanto na minha sorte quanto como é incrível a robustez da GS, que além de arranhões na mala e no protetor de motor do lado direito, careceu apenas de um leve alinhamento na dianteira (ela já passou pela revisão do Marquinhos no Estaleiro Motos e pela Brücke Motors, concessionária BMW em Vitória).           

Segundo o GPS, 16 dias e 10.205,4 km depois eu estava de novo na garagem de casa. No velocímetro da moto, outra medida: 10.138 km. Marcinho - nosso assessor para assuntos tecnológicos e correlatos - diz que a diferença é por causa do GPS 'ler' os relevos diferentemente da roda da moto. Ignorante nesses assuntos, acredito no amigo.       


Na garagem do hotel de Varginha arrumando as motos para o último dia de estrada

Despedida do Ilo no trevo de Lavras/MG 

Saudade das 'flanelinhas' e do cuidado dos frentistas dos postos brasileiros, que protegem até o último pingo. Na Argentina e Chile, até o banco da moto levava banho de nafta (ou benzina)...

Despedida do Marcinho, que foi direto para Marataízes encontrar a família


Prejuízo na GS: mala lateral, protetor do motor e de mão arranhados 



Trevo onde ocorreu o acidente: o motorista desatento da ranger atravessou a pista sem olhar 



4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Olá Rodrigo,
    Meu nome é Adelmo e sou aluno do seu irmão Guilherme em Belo Horizonte.
    Por indicação do Guilherme, venho acompanhando sua viagem desde o início e desfrutando de sua aventura pelos nossos países vizinhos da América do Sul.
    Confesso que fiquei muito desapontado, mas não surpreso, com a atitude revoltante da polícia argentina. Acho um grande absurdo esta prática de suborno. Tento encarar este tipo de gente como pobres coitados que não conseguem tirar o próprio sustendo do trabalho e ficam mendigando pelas estradas.
    Fiquei muito assustado com os preços das estadias e alimentação em alguns lugares, fazendo-me desanimar de uma viagem igual.
    Desejaria que viajar pela américa do sul não fosse tão difícil assim. Enfrentar estradas ruins, falta de combustível, burocracia e criminalidade fazem qualquer um desanimar, exceto você e seus companheiros.
    Mas, o grande divertimento dos seus textos foi ler sobre o Marcinho. Dá vontade de bater nele! Rs rs rs rs...
    Gosto de ler relatos iguais aos seus e te indicaria o livro do Rômulo Provetti - A Caminho do Céu. http://www.acaminhodoceu.com.br/
    Digo que seus textos não ficam nada a desejar do livro do Rômulo e que você também poderia escrever um.
    Minha oportunidade de fazer uma viagem igual chegará um dia. Sei que enfrentarei tudo que não gosto. Mas, como muitas pessoas que sabem dos mesmos problemas e continuam indo e vindo através das fronteiras do Brasil, deve compensar de fato.
    Nos veremos pelas estradas.
    Abraços.

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    1. Caro Adelmo!

      Obrigado por ler os textos, mas compará-los com os do Rômulo é muita bondade sua... Tenho o livro dele, presente do Ilo.

      No tocante a 'propina caminera', realmente é de embrulhar o estômago. Tenho o vídeo deles nos parando (não consegui postar pois é muito grande) onde se vê e ouve claramente o policial tentando justificar o injustificável já que ao fundo outras motos (locais) passavam tranquilamente pelo mesmo lugar.
      Infelizmente há vários relatos semelhantes em outros blogs, inclusive no Brasil...
      Mas vale ressaltar que no nosso caso - felizmente - foi pontual. Passamos por vários outros postos de controle onde sequer fomos parados.

      De fato a alimentação e estadia tanto na Argentina quanto no Chile nos assustaram visto que não diferem muito dos 'points' brasileiros em alta temporada. Lembro, porém, que paramos a maioria das vezes em cidades turísticas, várias delas noticiadas como algumas das mais caras do país (exemplo de São Pedro de Atacama e Bahia Inglesa no Chile e Purmamarca e Rosario - a última vivendo pleno Dakar - na Argentina).

      Quanto ao Marcinho, ele é o cara mais boa praça, maleável, engraçado e disposto que existe...rs. Grande amigo e companheiro de viagens, daqueles prontos a ajudar qualquer um a qualquer hora, apagar eventuais 'incêndios', etc. Pra ele tudo está bom: hotel ruim, comida fria e sem tempero, estrada esburacada... Só não o leve pra cima dos 4 mil metros...rs
      E olha que - pra não falar que peguei demais no pé - nem contei todas as histórias dele. Dava um blog inteiro...rs

      Viaje sim, esperando alguns dissabores mas nada que o enorme prazer de viajar de moto não compense. Diferente de qualquer outra modalidade de viagem, só sobre duas rodas você realmente se enquadra e faz parte das paisagens visitadas.

      Se vier pros lados do Espírito Santo, avise antes pra marcarmos umas curvas juntos.

      Abraços.

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  3. Olá Rodrigo,
    Fico grato pela sua atenção e gostaria de resaltar que o Marcinho foi muito marcante na narração da sua viagem e não deixe de levá-lo novamente. Quando eu disse que dava vontade de bater nele, eu falei de brincadeira. Outro ponto que achei muito engraçado foi quando pensei você diria que para conseguir deixá-lo calado e quieto era só tirar o oxigênio dele! rs rs rs rs...

    Abraços.

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