quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Décimo segundo dia (05/01): Paraná/ARG X Paso de La Patria/ARG (644 km)

Tomamos nosso café vegetariano e partimos perto das 9h. Daqui pra frente éramos só três. Serginho hora dessas devia estar na beira do Rio Paraná curtindo a largada do Dakar com a tranquilidade que lhe é peculiar...rs   

De Paraná, capital da Província de Entre Rios, novamente cruzamos o Rio homônimo para na outra margem chegar na cidade de Santa Fé, capital da Província vizinha, também Santa Fé. Dessa vez a travessia foi feita por um 'eurotunel versão argentina', um túnel bem bacana que passa por baixo do Rio e tem um peaje (pedágio) logo na saída. Curiosamente, dentre todas que atravessamos a Província de Entre Rios foi a única na qual as motos pagavam pedágio. Nas demais a gente sempre passava por um 'bequinho' (as vezes bem 'mandrake', até sem asfalto) do lado direito das cabines de cobrança. 

Desde ontem a DL650 do Marcinho começara a apresentar problemas na relação. Nas trocas de marcha um barulho - audível mesmo da moto ao lado - incomodava nosso 'cobra coral'...rsrs. Ele desconfiava da corrente, apesar dos apenas 25 mil km rodados da moto e das constantes lubrificações.

Era domingo e, portanto, sem chance de uma oficina decente estar aberta em Santa Fé. Dessa forma Marcinho mostrou que seus dotes mecânicos não se restringem apenas a eletrônica e abriu a caixa de ferramentas que trazia debaixo do banco da VStrom. A corrente da moto estava toda 'engripada', com os elos agarrados. Paramos em um posto e ele comprou umas 3 latas daqueles sprays lubrificantes e, com ajuda de um alicate e uma camisa de malha que descartou na hora, começou a 'desembolar' a corrente que - sabíamos - não duraria muito. Ficamos por lá quase 3h.

Eu e Ilo comemos, bebemos, etc. Tentei atualizar o blog mas acabei batendo o maior papo com um argentino 'santafesino' gente fina, também motociclista, que estava no posto por acaso. Trocamos e-mails e telefones, pra quem sabe um dia marcamos umas curvas por aí.

Sem camisa, suando bicas, mãos e unhas de mecânico, Marcinho terminou o serviço e garantiu: agora ela vai até Cachoeiro! (eu não devia falar aqui - em respeito ao esforço de meu amigo e companheiro de estrada - mas antes de sair do posto já era possível ouvir os mesmos barulhos de antes na corrente da VStrom... rsrsrsrs)

O dia ficou curto, já passava de 13h e não tínhamos andado nem 50km. Pretendíamos dormir em Corrientes, a quase 600km dali. Bom é que até lá era praticamente uma reta só margeando o caudaloso Rio Paraná e sem muitas coisas para se ver, a não ser as belas plantações de soja e os infindáveis campos de girassol, tanto na Província de Santa Fé quanto no Chaco (que mais pra baixo não é nem de longe sufocante e árido como na Rota 16 que encaramos na ida).

Chegamos a Resistência no finzinho da tarde e novamente (3ª vez em dois dias) cruzamos o Rio Paraná para o lado de Corrientes. Foi nessa cidade que a boa e conhecida Policia Caminera nos garfou na ida, então, todo cuidado era pouco. Passamos pelo mesmo lugar da blitz (porém no sentido oposto), desta feita sem problemas. Curioso, fiquei de olho no retrovisor para ver se achava a placa com a qual o guarda justificou 'o cafezinho' (quem sabe por lá seja 'o matezinho'?), e de fato a danada estava lá... Pequena, desbotada, dobrada (certamente pelo encontro com a carroceria de um caminhão), quase invisível, mas estava lá... Armadilha pura! Tudo quanto é moto transitava tranquilamente nos dois sentidos da avenida, caindo aos pedaços, sem placa, com 3, 4 ou mais ocupantes sempre sem capacete (bebês inclusive), mas os camineros só querem mesmo os 'reales' dos brasileiros... Fazer o quê? Culpa do Lula que valorizou nossa plata...rsrs

Paramos para abastecer e decidimos não pousar em Corrientes, que pelo menos a mim não causara boa impressão desde a ida. A frentista sugeriu Paso de La Patria, balneário famoso na região, com movimentada praia de Rio. Já escurecia mas como eram só mais 50km resolvemos encarar.

Ao pegar a Rota 12 (que termina praticamente em Foz do Iguaçu), cerca de 40km depois chegamos no trevo de Paso de la Patria e soubemos que a frentista realmente não mentiu sobre o movimento daquele lugar. A rodovia estava parada e guardas controlavam o fluxo dos veículos que saíam da estrada que vai até o balneário. Afinal, era início da noite de domingo e todos que passaram o final de semana lá estavam voltando para casa. Os cachoeirenses vão me entender: imagina aquela fila no trevo da safra no sentido Marataízes X Cachoeiro nos fins de tarde dos domingos de verão... Por sorte íamos no sentido oposto.

Paso de la Patria estava igual nossas praias no verão: desfile de biquinis e sungas pelos barzinhos e restaurantes à beira rio, música alta nos carros, sujeira nas ruas... Argentino que não tem cão, caça na água doce mesmo (ou vai pra Santa Catarina...rsrs).

Fosse sábado não acharíamos hotel. Era domingo e quase não achamos! Depois de duas tentativas frustradas paramos perto de um restaurante e como quem não quer nada perguntei a um cara que vendia frango assado se ele sabia de um hotel 'BBB' que aceitasse cartão (estávamos cada vez mais duros). Ele respondeu que ia resolver a parada: entrou balcão adentro e minutos depois voltou dizendo que por 300 pesos (pouco mais de R$80,00) nos alugaria um quarto com três camas, ar condicionado e banheiro privativo, ali mesmo, no prédio do restaurante. Oba! Mas tinha um detalhe: demoraria 1h30min pra gente poder ocupá-lo (depois que conhecemos la habitacion tivemos certeza que eles moravam naquele quarto e o desocuparam pra gente, por isso a demora pra tirar os objetos pessoais, trocar lençóis, etc.).

A espera foi boa pois já que estávamos no restaurante pedimos logo uma quilmes e três parmegianas de surubim - pescado ali em frente mesmo - acompanhado de ensalada e papas fritas. Não sei se foi a fome (apesar dela nos ter feito companhia quase todos os dias da viagem...) mas o tal surubim para mim foi, sem dúvida, a melhor refeição de todas até então.      

Depois de mais umas 3 ou 4 quilmes e - pra matar a saudade - outras 3 ou 4 brahmas, embora literalmente em cama alheia, dormimos igual bebês e com o ar condicionado ligado no máximo.


Praia no Rio Paraná, em Corrientes

Por do sol na travessia entre Resistência X Corrientes, onde além das capitais o Rio divide as províncias do Chaco e Santa Fé




Marcinho em uma das paradas para verificar a corrente

Belos campos de girassóis entre Santa Fé e Resistência

 O famoso parmegiana de surubim do Rio Paraná

Boa mesa: quilmes, surubim, ensalada e papas fritas

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